A Feira e a Vida

Hoje pela manhã fui à feira-livre e julgo este exercício um dos principais para um teólogo contemporâneo. É na feira que a gente percebe quão diferente é o ser humano. Naquele bate-bate de gente com gente, quanta diversidade de sons, cheiros, cores, rostos, peles, jeitos, vozes em confusão, 'olha o tomate...' , 'batata na promoção...', 'poupa de açaí verdadeira...' , 'Olha o milho...' Aí eu não resisti a esta chamada. Comi um milho verde delicioso! Na feira tem de tudo.

A feira não é lugar dos títulos acadêmicos, é o lugar de gente. Mas se os da erudição frequentassem mais as feiras certamente se tornariam mais sensíveis, mais práticos, mais humanos. Quem trabalha com pessoas e deseja melhorar sempre em sua atividade precisa frequentar uma feira. Além de econimizar, a gente aprende sobre a complexidade dos relacionamentos humanos.

A feira é uma grande sala de aula. É lá que a gente aprende a nossa hora de passar, esperar a sua vez de falar, aprende a relevar as trombadas que os outros nos dão por falta de atenção ou ousadia. É na feira que a gente aprende que conviver é perceber a diferença do e no outro, e que não existimos sozinhos. É na feira que a gente aprende a sorrir com algumas situações muito estranhas...

Mas tem uma lição que consigo absorver da feira para minha vida e atividade profissional que é o respeito aos espaços. A diversidade e as diferenças percebidas nas pessoas nos impõem limites. Como teólogo, pastor e conselheiro espiritual numa clínica para recuperação de dependentes químicos, percebo cada dia que minhas atividades e palavras nem sempre alcançam as pessoas com quem convivo ou cuido como eu gostaria que as alcançassem.

Pelo fato de ser o que somos, seja em qualquer área de trabalho com pessoas, não podemos nos enganar achando que o que fazemos e realizamos sempre encontrará uma acomodação plena nas outras pessoas. Elas apenas se permitem a isto ou não. Resolvem abrir um espaço em suas vidas ou não.

Precisamos construir "pontes" da feira com a vida. Se começarmos a enxergar a vida como uma grande feira, penso que em muitas coisas nós conseguiremos lidar melhor. Aprenderemos a esperar, a falar, relevar, respeitar, e todos estes verbos se conjugam com um o outro: conviver.

Conviver e respeitar espaços é a verdadeira arte da vida. Cada um pode viver do jeito que quiser, mas conviver não. Conviver exige de nós reconhecimento de outras coisas. Em nossa convivência com os outros pensemos nos limites que envolvem estas relações de um lado e do outro.

Na convivência com Deus, o Ilimitado, pensemos apenas em nossos próprios limites que nos impedem tantas vezes de entendê-Lo e permiti-Lo que aja em nós modificando nossas percepções sobre a vida e sobre as pessoas com quem convivemos.
Vá à feira... Tire suas próprias lições... E se puder, coma um milho. rsrsrs.

Ao Sr. Fusca...

Há muito tempo que venho pensando em escrever algo sobre o Fusca. Na realidade, prestar uma homenagem. Talvez para você que ler este artigo não perceba a essência desta homenagem, mas para um montão de outras pessoas que já tiveram um, andaram, namoraram ou enfrentaram dias chuvosos com ruas alagadas dentro de um 'fusquinha', lembrará certamente num misto de nostalgia e humor alguma história que passou dentro desse carro simpático.
Quem não tem uma história para contar com um Fusca não experimentou a parte boa da vida. Já conheci um cara que fez uma viagem do interior do Ceará para o Rio de Janeiro (rsrsrs), é muita coragem e loucura juntas...

A maior parte das lembranças da minha vida estão relacionadas ao Fusca, ou a um Fusca, o do meu pai. Desde que comecei a me entender por gente, ele estava lá na garagem, quase que um ser. Para o meu pai o fusca sempre foi o melhor carro do mundo! E ai de quem falasse que o seu fusca estava com uma marcha emperrando ou coisa parecida, que meu pai ficava muito irritado.

De tempos em tempos meu pai dava aquela ajeitada no 'bicho'. "Pra que carro novo? Tô com meu carro novinho... Pintei, troquei as peças do motor, pintura nova, estofados novos"; Realmente o Fusca ficava novinho em folha e eu e meus irmãos nos orgulháva-mos em sair naquele carro cheirando à oficina...
Às vezes meu pai chegava a investir no 'fusquete' mais do que ele valia correndo o risco de perder todo o investimento que tinha feito, como no dia em que ao tirar o carro da oficina no sábado para irmos à igreja no domingo, no caminho para casa atropelou um cavalo arrebentando com o carro "novinho" todinho...

Lá em casa os três irmãos têm histórias para contar com aquele Fusca. Ele serviu aos três com suas namoradas daquela época. Pelo que consigo lembrar de umas quatro ou cinco ex-namoradas que andaram no fusca. Além de equipamentos de som, super lotação de amigos nas saídas e até algumas viagens. Ah se o fusca do meu pai falasse... (rsrsrs)

Uma coisa que chamava a nossa atenção e dos amigos que andavam com a gente era que o fusquinha do meu pai corria pra caramba. E de vez em quando a gente dava um "couro" (deixava para trás) alguns 'playboyzinhos' que se achavam, pensando que iriam nos humilhar em seus carros modernos, mas o fusquinha do meu pai era 1.3 e muitas vezes alguns caras ficavam surpresos com a força que ele tinha.

O Fusca "exerce" sobre quem o possui uma "influência" muito grande. Parece "impor" sua "personalidade" na maioria de seus donos. Depois de vários anos de observação e profundos "estudos" cheguei a estas conclusões: 1) Todo dono de fusca é invocado, porque o seu fusca entra em qualquer terreno; 2) Todo dono de fusca acha que não fica doente, porque o fusca não quebra; 3) Se sente forte e jovem, porque a lataria não enferruja com facilidade; 4) Se sente corajoso porque para o fusca não tem sol, chuva ou lama; 5) Se sente charmoso porque o fusca com qualquer quinhentos reais fica bem ajeitadinho; 6) Todo dono de fusca se acha cheiroso, mesmo não percebendo que quando chega em algum lugar o cheiro de gasolina ficou impregnado em sua roupa.

O Fusca não é um carro gente... O Fusca é um "ser"! Hoje indo para o trabalho encontrei um Fusca 66 todo original, "novinho" andando na minha frente; Então lembrei do Fusca da minha infância, adolescência e parte da juventude. Depois de muitos anos somente a pouco tempo o Fusca do meu pai foi vendido. Não tinha mais como adiar esta homenagem... Olhando esse Fusca 66 na minha frente cheguei à conclusão que meu Pai estava certo: "o Fusca é o melhor carro do mundo"! kkkkkk.....

O Mundo das "Bolas e dos Crack's"



Dias atrás todo o mundo e o mundo da bola, comentava sobre o milésimo gol do Romário. A expectativa que durava algum tempo chegou ao fim contra o Sport Club do Recife, o que para todo tricolor torcedor do Santa Cruz, foi um deleite para a alma.

Fora de Recife eu sou um simpático torcedor do Vasco, talvez muito mais torcedor do Romário. O gol mil me deu motivos de sobra para tirar a ‘maior onda’ com o Iranildo. Um rubro-negro ‘de carteirinha’ que já me fez ouvir o hino do Sport e o canto da torcida do flamengo em pleno maracanã, acompanhada pelo contagiante ritmo de sua charanga gravado do seu aparelho mp3. O milésimo gol era o momento de eu poder dar o troco...

Tudo bem que eu não sou o melhor dos torcedores nem do Santa Cruz e nem do Vasco. Não sou um torcedor tão eufórico quanto o Iran em dias de vitória dos seus times em Recife e no Rio de Janeiro. Mas o fato é que todas as torcidas adversárias do Vasco reconhecem que o Romário é um crack! A bola e o ‘Baixinho’ na área é sinônimo de gol.

Pegando carona no mundo da bola onde gol, torcida, rivalidade, gozação, crack’s, nos dão a idéia de alegria e festa, pelo menos deveria ser, gostaria de falar sobre um outro mundo nada alegre e sobre um outro jogo que muita gente não vê pela televisão numa tarde de domingo que é o Jogo da Vida contra as drogas na luta contra a dependência química.

Neste jogo quando o time das drogas vence uma partida não há motivos para comemorações, gritos e saltos de felicidade. Um jogo aonde as bolas vão sempre para fora das redes atingindo milhares de famílias deixando feridas na alma e no coração. Um time onde a expressão ‘matador’ tem tudo a ver com o ‘atacante’. Um jogo onde a vitória contraditoriamente, sempre traz perdas, sensação de fracasso e desesperança.

No time das drogas ‘dar uma bola’ não é fazer um lance para um outro jogador, mas ingerir, fumar ou cheirar. O time das drogas possui um ataque que não é o ‘dos sonhos’ e sim o dos pesadelos, e juntos formam o ‘trio do C’: ‘Crack’, ‘Cannabis’(maconha), ‘Cachaça’(álcool), estes são ‘atacantes’ terríveis. O restante do time conta com: Cigarro jogando como armador, Cocaína pelas laterais, Ecstasy como meio esquerdo, o famoso Thiner na meia direita, e na zaga Cola, Fristo e LSD; No gol: Anfetaminas.

Trabalhando como Conselheiro Espiritual numa ONG que lida com a recuperação de dependentes químicos e alcoolistas, é doloroso constatar a quantidade de pessoas, em todas as camadas sociais, que estão presas às drogas. São crianças, adolescentes, jovens e adultos, homens e mulheres, pobres e ricos que se ‘associaram’ ao ‘club esportivo da morte’.

No time que joga pela vida a escalação é: Instituições Religiosas, Governamentais e não governamentais (ONG’S), Fundações, Voluntários, Psicólogos, Teólogos, Assistentes Sociais, Médicos, Terapeutas Ocupacionais, Conselhos Tutelares, Igrejas e familiares. Todos, inseridos e envolvidos no processo de tratamento de filhos, filhas, pais, mães, sobrinhos, amigos, maridos, esposas... Muita gente a fim de mudar de time. Famílias inteiras que querem voltar a comemorar a arte de viver em paz.

O jogo é duro! Cada dia uma nova batalha. E no time da Vida não existem reservas, nem expectadores como torcida. Somos jogadores titulares unindo forças nesse ‘jogo’ da vida contra a morte.