A "Escolha" do Amor

Este texto não é fruto do meu livre pensar sobre as situações da vida, não obstante a idéia dele está na minha mente há dias e ter a ver com as minhas vivências, sua inspiração e desejo por escrevê-lo nasce numa mesa de uma pizzaria numa conversa informal sobre o amor, onde prometi aos meus amigos Mauro, Juliana, Jaqueline e Marcelo, Flavinha e Thamy, escrever sobre o que falávamos.

Escrever é assim, as palavras e idéias parecem ter vida própria, parece que elas decidem o dia que querem ser escritas e hoje elas "escolheram" que eu escrevesse sobre a escolha que o amor nos faz.


É isso mesmo que você leu. Eu acredito que não somos nós quem escolhemos amar, somos escolhidos pelo amor para amar alguém. E quando isto acontesse não há razão, não há tempo, não há regras formatadas que impeçam o sentir. Ele acontece... Quem nunca amou não sabe a força que o amor tem. O que fazer com este sentimento é um outro aspecto, é uma pergunta secundária, mas impedir que o amor surja dentro de nós é "quase" impossível.

Falar sobre o amor sempre será um tema inspirador e cheio de contradições para mim. Porque o amor ao mesmo tempo que alegra, pode gerar dor. Ao mesmo tempo que faz sorrir, pode fazer chorar. Ao mesmo tempo que te possibilita enxergar o horizonte, pode te levar a um labirinto de incertezas e ansiedades.

Alguém poderá até dizer que se o amor gera todas estas contradições o que você sente não é amor. Eu prefiro pensar que não há ao mesmo tempo, nada tão forte e frágil quanto o amor. Ele é capaz de resistir a tudo, mas se não for regado como uma planta que necessita de cuidados de tempos em tempos, poderá morrer, poderá acabar.

A verdade é que não há nada mais imprevisível que o sentimento. Ninguém pode garantir que aquele(a) que diz te amar hoje, te amará daqui há cinco anos, dez anos. Esta idéia nos assusta porque ao descobrir o amor, ninguém em sã consciência planeja desistir de amar. Amar é muito bom. É por isso que nos esforçamos por tornar este sentimento previsível e estável. Então revestimos o amor de previsibilidade que às vezes ele não tem. Porque pensar na dor do amor é terrível. Sentí-la pior ainda. Por isso que também chego à conclusão que se envolver e se lançar numa relação de amor com alguém é sem dúvida uma das maiores decisões de fé.

Aceitar a imprevisão do amor é muito difícil para nós, porque não conseguimos pensar em amor destituído de romantismo. Mas a verdade é que pessoas também deixam de amar por vários motivos que não vêm ao caso, pois a minha intenção aqui não é escrever sobre os desdobramentos do amor e sim da sua capacidade de nos escolher. Quando o descobrimos já é tarde, já estamos completamente envolvidos por ele.

O amor é quem nos escolhe Mauro, se não fosse assim, não amaríamos alguém que não nos ama.
Quando o amor nos escolhe podemos amar em silêncio sem que o outro saiba de nada, por entendermos que não há possibilidade de acontecer uma história de amor com este outro.
O amor pode nos levar a situações desconfortáveis que não gostaríamos de está Ju...
Quando o amor nos escolhe queremos deixar de amar e não conseguimos. Queremos fugir e nos aproximamos... E se o seu amor for como cacto, você poderá sentí-lo por muito tempo sem que seja regado por alguém.

É o amor quem nos escolhe para amarmos alguém. É o amor que em meio as imprevisões e contradições do sentir, nos conduz à esperança mesmo quando tudo está confuso. É o amor que nos faz esperar o tempo necessário sem que saibamos quanto tempo este tempo será. É o amor que nos faz enxergar além do olhar dos outros.

Eu não tenho como entender diferente... É o amor quem nos escolhe para amarmos alguém. Eu não tenho medo de amar apesar de toda imprevisão e contradição que vivo hoje.






Homenagem de Despedida. Valeu Demais!

Gente esta homenagem alegrou demais o meu coração. Muito obrigado pelo carinho de vocês! Deus os abençoe! Em breve a gente se vê! Um "xero" recifense em todos!

O Tempo da Alegria

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do Céu:... ...tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;"
(Eclesiástes 3:1 e4).

Assim começa e se desenvolve um dos textos mais belos e ricos das Escrituras Sagradas. O conteúdo prático e objetivo descrito por Salomão não nos deixa outra opção se não entender que a vida não é uma 'reta', um caminho previsível e sim um caminho no qual experimentamos dias bons e outros ruins; dias onde o choro e o riso têm seu tempo e ocasião.

É Tolice pensar que viveremos dias retilíneos em nossa existência sem que nenhuma imprevisão nos tome de supresa. Entretanto, a tristeza e o choro não são eternos, ambos têm o seu tempo determinado pois voltaremos a sorrir e saltar de alegria.
Se dias atrás escrevi sobre "O Tempo da Tristeza" (veja texto abaixo), hoje quero falar sobre a alegria que invadiu meu coração, pois é o Tempo da Alegria. A alegria de poder sentir, que mesmo em meio a todo esta bagunça social e toda a desestruturação que ela causa na vida das pessoas e famílias, Deus me conduz a lugares e me usa para interferir por alguns momentos na vida de crianças, adolescentes e jovens, e estes 'alguns momentos' poderão determinar a caminhada deles aqui e depois daqui.


Hoje tive uma manhã maravilhosa com algumas crianças que fazem parte do programa da ONG (ASSEMER - ES) que dá apoio à crianças em situação de vulnerabilidade, onde iniciei um trabalho de musicalização com o objetivo de organizar um côro(coral) para cantar nos eventos natalinos já agendados pela cidade no mês de dezembro. A semana com eles começou tensa, com muitas dificuldades e apreensão, mas está terminando cheia de esperança e alegria.


Estou alegre porque tenho visto na comunidade onde tenho servido acompanhando jovens e adolescentes que Deus está realizando algo significativo e lindo, movendo corações de alguns que certamente influenciarão outros a entenderem que a vida é mais que sonhar com a carreira, trabalhar e ganhar dinheiro.


Estou feliz porque Deus tem agido no tempo certo, no tempo d'Ele, o tempo que Ele determinou para recolher os 'frutos' de sementes que em tão pouco tempo foram plantadas por mim. Hoje (26/10) iremos festejar a alegria de ter Deus no coração. Vestidos com fantasias infantis sem nada esconder, vamos brincar pois em Cristo a gente é livre de verdade para celebrar a vida com todo o 'gás' no coração.
Estou feliz porque vejo jovens e adolescentes aprendendo que celebrar a vida em Cristo não nos tira a responsabilidade de proclamar.

Estou alegre porque apesar de algumas situações humanamente difíceis de sentir, pensar e compreender no meu atual momento existencial, posso escutar palavras doces que aliviam a alma e reacendem o sonho há tanto esperado... Estou alegre porque relembrei que a minha vida está sob o controle absoluto daquele que É.
Estou feliz porque não existe uma outra maneira da gente aprender, crescer e amadurecer se não for vivendo. Se não for desconstruindo e construindo; chorando e sorrindo; calando e falando; abraçando ou deixando de abraçar... Ah... Temos que aprender a dar tempo pra vida.
Estou feliz porque estou vivo. E é nesta minha vida cheia de altos e baixos, de curvas e surpresas boas e ruins, é que Deus vai me ensinando, se revelando e eu vou ficando mais encantado...

Eita felicidade danada! É gozo na alma... É certeza das coisas que não consigo ver... É deixar... É viver cada coisa no seu tempo... E hoje, é o tempo da alegria.

O Tempo da Tristeza (Repostado)

Hoje resolvi escrever sobre a tristeza que tomou conta de mim o dia todo e se eu não expurgá-la com palavras o dia será pior. Há pelo menos três razões pelas quais podemos nos sentir profundamente tristes. A primeira é a solidão, depois a saudade e por último a ausência de respostas para os grandes dilemas da vida.

Minha tristeza hoje é aguda porque estou ao mesmo tempo sem respostas, cheio de saudades e só. No silêncio e na solidão do meu apartamento ouvindo apenas o ruído do motor da geladeira, quer dizer, estava ouvindo, pois ela acabou de disparar, é que estou escrevendo este texto.

Não sou de falar das minhas tristezas por isso este texto está longe de ser uma declaração de autopiedade é apenas um desabafo. Não vou falar aqui dos motivos da minha tristeza, vou falar apenas dela mesma. Quem hoje olhou para mim pode perceber que eu estava triste; Não consigo esconder minhas emoções. Quando estou alegre estou mesmo, mas quando estou triste, estou... Hoje algumas lágrimas já rolaram, já me faltaram palavras, a voz embargou e ainda estou com uma vontade imensa de chorar. Mas, está tudo preso aqui por dentro...

Tristeza miserável esta que rouba até a minha vontade de chorar... Neste momento lembro de um certo dia quando cheguei em casa e encontrei a minha querida avó Doralice muito triste sentada à sua cama; Perguntei à minha mãe o motivo da tristeza em minha Avó quando então fiquei sabendo que um irmão dela havia falecido numa cidade no estado da Paraíba.

Me aproximei e falei que ela poderia chorar e segurando sua mão ouvi naquele momento uma das lições mais profundas em toda minha vida: “Meu filho eu já sofri e chorei tanto nessa vida que não sai mais nada, não cai uma só lágrima, fico só triste”.

Aprendi com a Dona Dora naquele início de tarde que a gente não somente chora ao verter lágrimas... A gente chora por dentro, chora na alma, mesmo que o sofrimento e a tristeza impeçam as lágrimas saírem.

Entendi o choro da minha Avó naquele dia. E ela pensando que não chorava mais. Chorou em suas palavras... Hoje eu quero chorar escrevendo aqui. Na vida também há momentos para o choro ou para tristeza mas eu não a celebro.

Não há nada mais humano que chorar... Aprendi isto com o meu Mestre que também chorou com a perda do seu amigo Lázaro. Existem algumas situações em nossa vida que as palavras não precisam ser ditas, as lágrimas se tornam nossas orações. Deus sabe interpretar lágrimas como ninguém. Como gostaria que hoje Ele não somente as minhas interpretasse, mas que as respondesse, e que arrancasse toda esta solidão de dentro do meu peito.

A tristeza nos empurra para as “cavernas” existenciais e a minha hoje está bastante escura. Hoje estou terminando o dia lendo e orando como Davi quando estava em sua caverna:

“Atende, Senhor, a minha oração, dá ouvidos às minhas súplicas. Responde-me segundo a tua fidelidade, segundo a tua justiça. Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente... Por isso dentro de mim esmorece o meu espírito, e o coração se vê turbado. Lembro-me dos dias de outrora, penso em todos os teus feitos e considero nas obras das tuas mãos; A Ti levanto as mãos; a minha alma anseia por ti, como terra sedenta. Dá-te pressa em responder-me; não me escondas a tua face, para que eu não me torne como os que baixam à cova. Faze-me ouvir, pela manhã, da tua graça, pois em ti confio; mostre-me o caminho por onde devo andar, porque a ti elevo a minha alma. Livra-me dos meus inimigos; pois em ti é que me refugio. Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano. Vivifica-me, Senhor, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira da tribulação a minha alma. E, por tua misericórdia dá cabo dos meus inimigos e destrói todos os que me atribulam a alma, pois eu sou o teu servo” – (Salmo 143).

Gabriel Chegou...

Este é o Gabriel meu mais novo sobrinho. Deus te abençoe Biel foi muito bom te ver!


Não quero ser um 'tio coruja' mas a boca e o queixo são do tio hein? rsrsr...

Resiliência e Graça


As ciências humanas e dentre elas a Psicologia reserva atenção especial sobre a capacidade que homens e mulheres têm de não somente resistir, mas de superar e se reestruturarem ao passarem por situações difíceis na vida. Esta capacidade de alguém chegar ao 'fundo do poço' e sair de lá para a vida trazendo consigo experiências de dor e amadurecimento os especialistas chamam de Resiliência.



Cada um de nós tem esta capacidade natural que nos permite olhar para trás e perceber que passamos algumas situações desagradáveis mas, conseguimos superá-las. Em determinados momentos achamos que jamais sairíamos de um contexto e hoje nos vemos olhando aquilo que parecia ser tão difícil naquele momento da nossa existência e hoje é apenas uma lembrança de um tempo que passou.


Contudo, a Bíblia aponta para algumas situações onde somente a capacidade humana de passar, suportar e superar momentos difíceis não seria suficiente para o levantar-se. O cristianismo apresenta uma outra capacidade gerada no coração daqueles que experimentam uma relação autêntica com Deus, que é a possibilidade de alguém sentir-se ao mesmo tempo triste e feliz.


Na mentalidade de muitos isto é contraditório e impossível; Se estou triste não há como estar alegre ao mesmo tempo. Se sinto dor não há como ao mesmo tempo sorrir. Uma coisa suplanta a outra. Ou eu estou feliz ou alegre.


É diante desta outra capacidade, sobre humana, que toda a explicação teórica científica não subsiste a explicação bíblica. Para a psicologia o sentir-se bem requer a migração de um estado de desconforto para um outro que seja considerado ou percebido como bom. Ou seja, o ruim está num lugar e o bom em outro. A perspectiva bíblica-teológica não obedece esta lógica pois na tristeza ou na dor homens e mulheres de Deus podem experimentar alegria e paz.


Foi assim com Daniel e seus amigos na Babilônia foram sentenciados a serem lançados numa fornalha ardente e estavam calmos, plenos em sua confiança em Deus; Foi assim Estêvão quando estava sendo apedrejado pelos religiosos do seu tempo e joelhos entregava o seu espírito a Deus pedindo-Lhe que não lhes imputassem aquele ato por pecado; Foi assim com Davi quando perseguido por seu filho Absalão encontrou paz e refúgio na caverna de Adulão; Foi assim com Sara, mulher de Abraão, quando esperou durante vinte e cinco anos crendo numa promessa de Deus que seu filho iria nascer, Isaque. Foi assim com Jó que num só dia perdeu seus dez filhos, todo os seus bens e quase todos os seus servos, além da indiferença de todos que o cercavam e até da sua própria esposa.


Nestas situações estes homens e mulheres experimentaram o sabor mais amargo da intolerância e idolatria dos babilônios, a perseguição e morte por amor a Cristo, a ira mortal de um filho contra o seu próprio pai que chegou a fazer-se de louco para não ser morto, a terrível angústia desenvolvida pelo fator tempo, gerada no coração de uma mulher que desejava ser mãe e sofria com sua esterilidade; O sofrimento imprevisível de um homem que foi considerado o mais íntegro entre todos.


Estas pessoas experimentaram o 'fundo do poço' em algum momento de suas vidas e permaneceriam lá se dependessem apenas de si mesmos e de suas capacidades naturais de superação nas dificuldades que enfrentaram.


A grande verdade é que existem situações na vida em que a capacidade de ser resiliente não é suficiente. Existem situações em que perdemos a força e a vontade de viver e pensamos desistir de tudo.


Estes homens e mulheres do passado que andaram com Deus experimentaram mais que força humana. Eles experimentaram da Graça de Deus sobre as suas vidas. Quando falta a resiliência abre-se espaço para a experiência com a Graça divina que pode ser compreendida como a ação direta de Deus sobre as circunstâncias da nossa existência que apesar dos pesares, nos impulsiona, nos renova, nos consola, fortalece, anima e nos sustenta.


É o experimentar desta graça que faz o salmista e rei Davi dizer em um de seus poemas, o de número 63:3 o seguinte: "a Tua graça é melhor que a vida e os meus lábios te louvam".

É o experimentar desta Graça que fez o apóstolo Paulo ser confrontado com a sua fragilidade e incapacidade humana de suportar o seu "espinho na carne" (2Co.12:7-10). Sentia-se humilhado e esbofeteado no rosto pelo próprio Satanás que lhe acusava. Mas foi neste momento que foi confortado quando ouviu o próprio Senhor lhe dizer: "A minha Graça te basta". Então se alegrou em sua fraqueza, nas injúrias, nas necessidades que sentia, nas perseguições, nas angústias e tudo isto por amor a Jesus Cristo, e este mesmo o fez compreeender a "contradição aparente e santa" daquele momento: que quando Paulo se sentia fraco é que se tornava mais forte não por ele mesmo, mas pela Graça de Deus.


Não existe nada mais forte e de maior poder que possibilite homens e mulheres passarem, suportarem e reerguerem-se para a vida que a Graça de Deus. Precisamos em algum momento da nossa existência e experiência com Deus entender que "tudo é Graça e a Graça é tudo".

Com Gosto de Sangue na Boca

Faz tempo que não posto nada por aqui. Isto não quer dizer que eu não esteja escrevendo, mas aprendi que escrever é uma exposição da alma. E existem situações em que as minhas palavras se tornam muito "hemorrágicas", muito intensas, fortes, gerando um resultado final na mente das pessoas que não era a minha intenção inicial. Coisas da liberdade de interpretação que a palavra promove dentro de cada um, fazendo-nos sentir e interpretar de acordo com o nosso momento existencial.


Postei dias atrás e depois retirei um texto sobre a tristeza que estava sentindo e não esperava despertar a piedade das pessoas sobre mim, apenas precisava expor o meu momento, aquele momento; sem deixar de crer que "o choro pode durar uma noite, mas a alegria vêm pela manhã" - (Bíblia Sagrada), sem que necessariamente a idéia cronológica esteja atrelada a esta expectativa.
Mas enfim, o texto criou asas e como não queria ser autopiedoso resolvi tirá-lo. Acho que esta decisão de "despostá-lo", psicologicamente me foi útil, simbolizou a minha resistência o que na Psicologia chamamos de Resiliência e talvez volte a postar aquele texto mais uma vez...


A grande verdade é que não podemos escrever sobre tudo o que sentimos. Aquele que escreve precisa também guardar-se, preservar sua intimidade, se isto é possível no momento em que se escreve. Pelo menos quem usa as palavras sou eu, e há muitos 'enigmas' nos meus textos que jamais serão revelados se não por mim mesmo, mas com o intuito de auto-preservação minhas palavras podem ser poetizadas, teatralizadas. Liberdade de qualquer autor, da sua intenção.


Quando as minhas palavras estão com 'gosto de sangue na boca' (expressão muito usada no nordeste para expressar o desejo de falar ferozmente e colocar tudo pra fora usando as palavras), prefiro esperar as minhas inquietudes se acalmarem para só então escrevê-las com maior controle e sensatez, porque palavras ditas ou escritas uma vez expostas, jamais voltam atrás.


Estou cheio de pensamentos, idéias, gritos, desaforos a dizer, desejos e intenções contidas que ainda não podem ser revelados em minhas palavras. Os psicanalístas de plantão certamente me chamariam de um "pobre escritor reprimido", mas nem mesmo o próprio Freud entendia a repressão em si como um mal. Existem coisas que realmente em nós (Ego), precisam ser reprimidas (superego) se não poderão nos trazer 'incômodos'. É por isso que prefiro a Gestalt ou as correntes fenomenológicas existenciais que propõem a liberdade com responsabilidade.


De maneira nenhuma o deixar de escrever 'com gosto de sangue na boca' me dói porque a liberdade está em minha consciência e escrevo aquilo que estou afim. Escrever é para mim um ato de liberdade e por isso não me torno 'refém' dos que me lêem e me interpretam, e sim das minhas próprias idéias e pensamentos.
Nestes últimos dias a minha mente está em verdadeira tempestade de palavras e virão pela frente alguns textos que sentirei muito prazer em expor a você que ler o meu blog. Textos livres, alforriados por mim mesmo e que tomarão caminhos os mais inesperados.


Vejam só, neste momento em que escrevo tão livre e teatralizadamente sou 'cobrado' a pensar como vou terminar este texto, com que final legal posso encerrar estas palavras... Não existe final legal nenhum quando a fome bate.... kkkkkkk! Abraham Maslow está certíssimo em sua teoria das hierarquias das necessidades humanas ao dizer que a fome é a primeira delas. Vou almoçar e até mais. Obrigado por ler este texto e interpréte-o como quiser você é livre para isto.

Sobre Amor, Cactos e Flores

Há um tempo atrás tomei a decisão de não mais entregar flores para expressar meus sentimentos por uma pessoa que amo ou venha amar. Resolvi entregar no lugar das flores, um Cacto.

Talvez para alguns esta decisão não seja nada romântica e desprovida de beleza, mas não vejo assim. Há muito mais beleza e significado para mim nesta atitude que antes quando entregava flores.

As flores são belas, cheirosas e impressionam por suas cores fortes e vivas ao mesmo tempo que são tão sensíveis e frágeis, podendo morrer rapidamente.
Não é sem sentido que o dito popular afirme que uma paixão entre um homem e uma mulher dure o tempo em que as flores estiverem vivas. Ou seja, quando elas murcham, vai-se embora a paixão.

A Frase pode até parecer supersticiosa, fatalista e sem poesia, mas tem lá sua razão de ser. Eu não critico quem ainda resolve dar flores a quem ama, mas o fato é que as flores que eu já entreguei, nenhuma delas sobreviveu, todas murcharam e eu 'cansei'.
Cansei de dar flores...

Cansei de expressar meus sentimentos rasos... Cansei da instabilidade e da angustiante expectativa de quando elas ‘iriam’ secar. Cansei de vê-las perderem o cheiro, a cor e vivacidade ao mesmo tempo em que percebia a morte lenta do desejo, da alegria e do encanto por quem estava ‘envolvido’.
Cansei dos esforços inúteis e das receitas tôlas como colocar açúcar no vaso com água a fim que as belas e frágeis flores não morressem tão cedo.
Cansei de entregar talos cortados sem raizes embrulhados em plásticos bonitos e com um laçinho...

Resolvi entregar cactos...

Eles parecem hostis, perigosos de se tocar, de aparência rude e ameaçadora com seus espinhos expostos sem segredo. Eles não têm o cheiro das flores e nem despertam suspiros apaixonados.
Fortes, resistentes e adaptados a viverem em situações adversas, os cactos vão resistindo tanto à sequidão quanto os temporais, ao calor e ao frio... Os cactos não morrem cedo.
Eles não são frágeis e sensíveis como as flores, eles têm raiz. Apesar dos espinhos eles também florescem.

A flor do cacto é linda! Ela pode brotar branca como a nuvem, azul como o céu ou amarela como o sol. Floresce entre os espinhos que a protegem das ameaças de serem comidas por animais de grande porte, assim como das aves que não conseguem pousar sem ferir os pés.
A flor do cacto floresce em meio a sequidão tanto do Cerrado quanto do Sertão nordestino.
Quando eu entregar um cacto a alguém estou querendo dizer a esta pessoa que estou pronto para amar.
Que estou disposto a experimentar a vida e as suas estações de ‘sequidão’ ou ‘chuva’, ‘frio’ ou ‘calor’.
Eu quero um amor como o cacto...
Que seja resistente, forte, firme e que se expõe...
Um amor que apesar das situações floresce.

A Feira e a Vida

Hoje pela manhã fui à feira-livre e julgo este exercício um dos principais para um teólogo contemporâneo. É na feira que a gente percebe quão diferente é o ser humano. Naquele bate-bate de gente com gente, quanta diversidade de sons, cheiros, cores, rostos, peles, jeitos, vozes em confusão, 'olha o tomate...' , 'batata na promoção...', 'poupa de açaí verdadeira...' , 'Olha o milho...' Aí eu não resisti a esta chamada. Comi um milho verde delicioso! Na feira tem de tudo.

A feira não é lugar dos títulos acadêmicos, é o lugar de gente. Mas se os da erudição frequentassem mais as feiras certamente se tornariam mais sensíveis, mais práticos, mais humanos. Quem trabalha com pessoas e deseja melhorar sempre em sua atividade precisa frequentar uma feira. Além de econimizar, a gente aprende sobre a complexidade dos relacionamentos humanos.

A feira é uma grande sala de aula. É lá que a gente aprende a nossa hora de passar, esperar a sua vez de falar, aprende a relevar as trombadas que os outros nos dão por falta de atenção ou ousadia. É na feira que a gente aprende que conviver é perceber a diferença do e no outro, e que não existimos sozinhos. É na feira que a gente aprende a sorrir com algumas situações muito estranhas...

Mas tem uma lição que consigo absorver da feira para minha vida e atividade profissional que é o respeito aos espaços. A diversidade e as diferenças percebidas nas pessoas nos impõem limites. Como teólogo, pastor e conselheiro espiritual numa clínica para recuperação de dependentes químicos, percebo cada dia que minhas atividades e palavras nem sempre alcançam as pessoas com quem convivo ou cuido como eu gostaria que as alcançassem.

Pelo fato de ser o que somos, seja em qualquer área de trabalho com pessoas, não podemos nos enganar achando que o que fazemos e realizamos sempre encontrará uma acomodação plena nas outras pessoas. Elas apenas se permitem a isto ou não. Resolvem abrir um espaço em suas vidas ou não.

Precisamos construir "pontes" da feira com a vida. Se começarmos a enxergar a vida como uma grande feira, penso que em muitas coisas nós conseguiremos lidar melhor. Aprenderemos a esperar, a falar, relevar, respeitar, e todos estes verbos se conjugam com um o outro: conviver.

Conviver e respeitar espaços é a verdadeira arte da vida. Cada um pode viver do jeito que quiser, mas conviver não. Conviver exige de nós reconhecimento de outras coisas. Em nossa convivência com os outros pensemos nos limites que envolvem estas relações de um lado e do outro.

Na convivência com Deus, o Ilimitado, pensemos apenas em nossos próprios limites que nos impedem tantas vezes de entendê-Lo e permiti-Lo que aja em nós modificando nossas percepções sobre a vida e sobre as pessoas com quem convivemos.
Vá à feira... Tire suas próprias lições... E se puder, coma um milho. rsrsrs.

Ao Sr. Fusca...

Há muito tempo que venho pensando em escrever algo sobre o Fusca. Na realidade, prestar uma homenagem. Talvez para você que ler este artigo não perceba a essência desta homenagem, mas para um montão de outras pessoas que já tiveram um, andaram, namoraram ou enfrentaram dias chuvosos com ruas alagadas dentro de um 'fusquinha', lembrará certamente num misto de nostalgia e humor alguma história que passou dentro desse carro simpático.
Quem não tem uma história para contar com um Fusca não experimentou a parte boa da vida. Já conheci um cara que fez uma viagem do interior do Ceará para o Rio de Janeiro (rsrsrs), é muita coragem e loucura juntas...

A maior parte das lembranças da minha vida estão relacionadas ao Fusca, ou a um Fusca, o do meu pai. Desde que comecei a me entender por gente, ele estava lá na garagem, quase que um ser. Para o meu pai o fusca sempre foi o melhor carro do mundo! E ai de quem falasse que o seu fusca estava com uma marcha emperrando ou coisa parecida, que meu pai ficava muito irritado.

De tempos em tempos meu pai dava aquela ajeitada no 'bicho'. "Pra que carro novo? Tô com meu carro novinho... Pintei, troquei as peças do motor, pintura nova, estofados novos"; Realmente o Fusca ficava novinho em folha e eu e meus irmãos nos orgulháva-mos em sair naquele carro cheirando à oficina...
Às vezes meu pai chegava a investir no 'fusquete' mais do que ele valia correndo o risco de perder todo o investimento que tinha feito, como no dia em que ao tirar o carro da oficina no sábado para irmos à igreja no domingo, no caminho para casa atropelou um cavalo arrebentando com o carro "novinho" todinho...

Lá em casa os três irmãos têm histórias para contar com aquele Fusca. Ele serviu aos três com suas namoradas daquela época. Pelo que consigo lembrar de umas quatro ou cinco ex-namoradas que andaram no fusca. Além de equipamentos de som, super lotação de amigos nas saídas e até algumas viagens. Ah se o fusca do meu pai falasse... (rsrsrs)

Uma coisa que chamava a nossa atenção e dos amigos que andavam com a gente era que o fusquinha do meu pai corria pra caramba. E de vez em quando a gente dava um "couro" (deixava para trás) alguns 'playboyzinhos' que se achavam, pensando que iriam nos humilhar em seus carros modernos, mas o fusquinha do meu pai era 1.3 e muitas vezes alguns caras ficavam surpresos com a força que ele tinha.

O Fusca "exerce" sobre quem o possui uma "influência" muito grande. Parece "impor" sua "personalidade" na maioria de seus donos. Depois de vários anos de observação e profundos "estudos" cheguei a estas conclusões: 1) Todo dono de fusca é invocado, porque o seu fusca entra em qualquer terreno; 2) Todo dono de fusca acha que não fica doente, porque o fusca não quebra; 3) Se sente forte e jovem, porque a lataria não enferruja com facilidade; 4) Se sente corajoso porque para o fusca não tem sol, chuva ou lama; 5) Se sente charmoso porque o fusca com qualquer quinhentos reais fica bem ajeitadinho; 6) Todo dono de fusca se acha cheiroso, mesmo não percebendo que quando chega em algum lugar o cheiro de gasolina ficou impregnado em sua roupa.

O Fusca não é um carro gente... O Fusca é um "ser"! Hoje indo para o trabalho encontrei um Fusca 66 todo original, "novinho" andando na minha frente; Então lembrei do Fusca da minha infância, adolescência e parte da juventude. Depois de muitos anos somente a pouco tempo o Fusca do meu pai foi vendido. Não tinha mais como adiar esta homenagem... Olhando esse Fusca 66 na minha frente cheguei à conclusão que meu Pai estava certo: "o Fusca é o melhor carro do mundo"! kkkkkk.....

O Mundo das "Bolas e dos Crack's"



Dias atrás todo o mundo e o mundo da bola, comentava sobre o milésimo gol do Romário. A expectativa que durava algum tempo chegou ao fim contra o Sport Club do Recife, o que para todo tricolor torcedor do Santa Cruz, foi um deleite para a alma.

Fora de Recife eu sou um simpático torcedor do Vasco, talvez muito mais torcedor do Romário. O gol mil me deu motivos de sobra para tirar a ‘maior onda’ com o Iranildo. Um rubro-negro ‘de carteirinha’ que já me fez ouvir o hino do Sport e o canto da torcida do flamengo em pleno maracanã, acompanhada pelo contagiante ritmo de sua charanga gravado do seu aparelho mp3. O milésimo gol era o momento de eu poder dar o troco...

Tudo bem que eu não sou o melhor dos torcedores nem do Santa Cruz e nem do Vasco. Não sou um torcedor tão eufórico quanto o Iran em dias de vitória dos seus times em Recife e no Rio de Janeiro. Mas o fato é que todas as torcidas adversárias do Vasco reconhecem que o Romário é um crack! A bola e o ‘Baixinho’ na área é sinônimo de gol.

Pegando carona no mundo da bola onde gol, torcida, rivalidade, gozação, crack’s, nos dão a idéia de alegria e festa, pelo menos deveria ser, gostaria de falar sobre um outro mundo nada alegre e sobre um outro jogo que muita gente não vê pela televisão numa tarde de domingo que é o Jogo da Vida contra as drogas na luta contra a dependência química.

Neste jogo quando o time das drogas vence uma partida não há motivos para comemorações, gritos e saltos de felicidade. Um jogo aonde as bolas vão sempre para fora das redes atingindo milhares de famílias deixando feridas na alma e no coração. Um time onde a expressão ‘matador’ tem tudo a ver com o ‘atacante’. Um jogo onde a vitória contraditoriamente, sempre traz perdas, sensação de fracasso e desesperança.

No time das drogas ‘dar uma bola’ não é fazer um lance para um outro jogador, mas ingerir, fumar ou cheirar. O time das drogas possui um ataque que não é o ‘dos sonhos’ e sim o dos pesadelos, e juntos formam o ‘trio do C’: ‘Crack’, ‘Cannabis’(maconha), ‘Cachaça’(álcool), estes são ‘atacantes’ terríveis. O restante do time conta com: Cigarro jogando como armador, Cocaína pelas laterais, Ecstasy como meio esquerdo, o famoso Thiner na meia direita, e na zaga Cola, Fristo e LSD; No gol: Anfetaminas.

Trabalhando como Conselheiro Espiritual numa ONG que lida com a recuperação de dependentes químicos e alcoolistas, é doloroso constatar a quantidade de pessoas, em todas as camadas sociais, que estão presas às drogas. São crianças, adolescentes, jovens e adultos, homens e mulheres, pobres e ricos que se ‘associaram’ ao ‘club esportivo da morte’.

No time que joga pela vida a escalação é: Instituições Religiosas, Governamentais e não governamentais (ONG’S), Fundações, Voluntários, Psicólogos, Teólogos, Assistentes Sociais, Médicos, Terapeutas Ocupacionais, Conselhos Tutelares, Igrejas e familiares. Todos, inseridos e envolvidos no processo de tratamento de filhos, filhas, pais, mães, sobrinhos, amigos, maridos, esposas... Muita gente a fim de mudar de time. Famílias inteiras que querem voltar a comemorar a arte de viver em paz.

O jogo é duro! Cada dia uma nova batalha. E no time da Vida não existem reservas, nem expectadores como torcida. Somos jogadores titulares unindo forças nesse ‘jogo’ da vida contra a morte.

Relato da Despedida

Na madrugada do dia 09 de maio de 2007, as quatro e meia da manhã, o despertador do meu telefone tocou anunciando que o dia da minha partida para a cidade de Vila Velha, no estado do Espírito Santo havia chegado.

Na minha despedida, pensei em falar particularmente com cada um da minha casa e agradecer pessoalmente tudo o que haviam feito por mim. Mas nada aconteceu como eu havia pensado. Foi melhor assim... Toda aquela intenção deu lugar a uma tensão controlada, ao nervosismo, à ansiedade, ao medo, às lágrimas...
Nesta manhã minha família olhava meus movimentos em profundo silêncio e em nossas mentes cenas da vida familiar, das alegrias e tristezas como num filme. Despedir-me naquele início de manhã foi muito dolorido. O carro já fora da garagem abarrotado de coisas era o sinal para meus sobrinhos, meu irmão mais velho e cunhada e principalmente para meus pais de que eu realmente iria pegar a estrada.

Enquanto limpava o pára-brisas do meu carro, meu pai colocou-se em pé, bem em frente à minha garagem segurando o portão, como se sinalizasse não querer a minha partida. Ele agüentou até onde pôde e depois não mais, tomado pela emoção rompeu o silêncio com um choro espremido, um choro de dor... “ai meu Deus...” Não tive outra reação se não deixar a água escorrer na mangueira ao chão e, ir ao seu encontro, abraçá-lo e chorarmos a mesma dor.

Naquele momento tentei acalmá-lo, dizendo que não se preocupasse porque eu iria devagar e chegaria bem. Mas o choro do meu pai não demonstrava apenas preocupação com a minha viagem, suas lágrimas, poucas vezes vistas por mim, diziam que ele começara sentir a dor da minha ausência, mesmo abraçados. A ausência do cuidado e até mesmo das palavras duras por conta da minha preocupação com a sua saúde e com o seu bem-estar. A ausência do filho e amigo que nos tornamos.

Compreendi o choro e a dor do meu pai. A gente fica grande e em algum momento os nossos pais vão se tornando “nossos filhos”, às vezes mais rebeldes do que nós fomos algum dia. Da mesma forma queremos ‘educá-los’ e podemos cometer os mesmos erros. Depois de alguns momentos tensos e trocas de palavras duras, desentendimentos, ficávamos mais sensíveis um ao outro. Depois das tensões quando um silêncio profundo se estabelecia, palavras não ditas, diziam-nos que nos amáva-mos muito.

Abraçados na despedida, junto com a água que escorria da mangueira, se foram as palavras duras e todas as tensões familiares... Levantei a cabeça do meu pai e olhando em seus olhos o disse: “eu te amo pai! Muito obrigado por tudo!”. Imediatamente ele respondeu que também me amava e me falou para não desistir do ministério que Deus havia me dado.

Depois de ouvir isto, já poderia viajar bem apesar da dor no peito. Dor e felicidade se misturaram, porque mesmo sabendo do amor do seu Geraldo por mim, esta foi a primeira vez em trinta e dois anos que ouvi meu pai dizer um “eu te amo”.

Eu o compreendo perfeitamente. É claro que ao longo destes anos chegar à esta compreensão não foi fácil, mas não o culpo por isso. Compreendo a sua história de vida e suas limitações. E mesmo que não me falasse nada, há muito tempo comecei perceber que ele sempre disse “eu te amo” de um outro jeito, do seu próprio jeitão.

Ele “gritou” várias vezes sua declaração de amor por mim fazendo. Jamais alguém faria o que ele já fez por mim se não me amasse profundamente. Se julgamos importante ouvir a famosa e doce declaração “eu te amo”, bem mais importante é compreender o amor, percebê-lo e interpretá-lo. Deixando de abraçar o meu pai, precisava reunir outras forças para despedir-me da minha mãe.

Dona Eliúdes não quis sair de dentro de casa para falar comigo. Fui ao seu encontro e no terraço nos encontramos: “chegou a hora mãe”. Nos abraçamos fortemente e choramos muito. Mas pela primeira vez mamãe não quis permanecer muito tempo abraçada a mim. conhecendo a minha mãe como eu conheço, aquele abraço não seria suficiente para aliviar a dor que ela também sentia.

Depois de insistir no abraço, a segurei e tentei acalmá-la um pouco, mas ela queria chorar sozinha e não me ver saindo... Qual é a mãe que se sente tranqüila em ver um filho deixar a casa? Muito mais minha mãe, que sempre fez várias recomendações em minhas saídas.

Somente neste dia da despedida que entendi de maneira mais clara que para a minha mãe, a nossa casa sempre foi extensão do seu útero. Perdi as contas de quantas vezes ao voltar tarde de algum lugar para casa, ela ainda estava acordada me esperando, para só então dormir tranqüila, “... estava apavorada meu filho...”.

Sempre preocupada comigo, sempre querendo o meu bem, sempre orando por mim, sempre querendo a minha felicidade, sempre solícita a estar perto mesmo sem palavras quando percebia a minha tristeza. Sempre quis fazer os gostos dos filhos preparando os pratos prediletos de cada um. Nunca deixou ‘passar em branco’ as datas do meu aniversário. Minha mãe é do “partido” do sempre. Sempre à disposição, sempre foi ‘mãezona’, sempre me amou.

Algumas palavras de despedida com a Dona Eliúdes foram trocadas antes da minha partida. E na semana enquanto ainda organizava as caixas com os meus livros, como se lê-se a minha angústia disse: “Você pode ir em paz meu filho, e não se preocupe comigo porque eu sei me cuidar”. Eu sabia exatamente o que ela estava me dizendo, intimidade entre mãe e filho que não serão reveladas aqui.

Fico feliz porque ela conseguiu superar algumas coisas bem difíceis, mas que a fizeram crescer e encontrar sua singularidade e liberdade pessoal para a vida. Ela sabia que em ouvindo isto, eu ficaria mais tranqüilo. E de fato fiquei.

Mas esta fala da minha mãe me tranqüilizou em parte, pois há poucos dias antes do meu retorno ao Espírito Santo, ela esteve internada com um quadro clínico sério. Ainda no Rio de Janeiro numa conexão no Aeroporto Internacional Tom Jobin, ao ligar para casa fiquei sabendo a notícia de que, esta que disse saber “se cuidar” estava internada num hospital em Recife por conta de uma grave infecção urinária, conseqüência imediata da falta de ingestão d’água.

Foram quase quinze dias no hospital e na primeira semana não tive a coragem para dizê-la que estaria voltando à Vila Velha. Ela ainda estava muito fragilizada emocionalmente por conta do internamento. Mas já passada a primeira semana, pudemos conversar sobre a minha partida e fui surpreendido quando ela me disse que “já sabia que isso iria acontecer”.

Ainda no hospital Dona Eliúdes me disse: “Se Deus falou isso ao seu coração meu filho vá em paz. Eu vou sentir muito, mas fazer o quê? Esta é a sua vida”. Acho que para minha mãe foi bem mais fácil dizer isto do que para o meu pai. É que Dona Eliúdes tem um pé no mundo. Acho que este espírito aventureiro que tenho, herdei por parte da família dela. Meu avô saiu da Paraíba para Pernambuco e de lá, para o Rio de Janeiro onde passou dezoito anos.
Dois dos meus tios ganharam também as estradas deste país como motoristas durante vários anos. Já a minha mãe tem necessidade de sair, de passear e para isto um pequeno motivo basta. Ela certamente não rejeitará nenhum convite para sair, ela gosta de ver o mundo.

Mas naquela manhã da despedida a idéia da estrada dava a sensação à minha mãe de que o seu “útero” permaneceria vazio... Depois que me largou ela saiu chorando para algum lugar da casa...

Somente a “compreensão” quase inexplicável da vocação e vontade de Deus para nossa existência, justificam as decisões e renúncias que eu e muitos outros que vivem o ministério tomam e/ou experimentam na vida.

Quem vive o ministério em algum momento poderá renunciar projetos pessoais, sonhos, o ambiente familiar e talvez a sua própria cultura. E tudo isto em nome do imprevisível, porque não sabemos como o Espírito nos conduzirá e realizará sua vontade em nós e em nossos ministérios, pois o “vento sopra onde quer. Ninguém sabe de onde ele vem, nem para onde ele vai... assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. No coração apenas uma certeza: é Deus quem chama o resto é fé e dependência. Constrangidos pelo Amor a renúncia encontra sua razão.

Resolvi fazer este relato com o objetivo de mostrar que por trás de toda esta minha história, existe uma história muito maior, a história da Graça de Deus. É ela quem me fortalece, anima, ensina e renova dentro de mim, toda a crença de que seguir a Jesus vale a pena. Pontuando a minha história um texto: “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” – (Lc.14:26-27). Um abraço para Misael, Deninha e Gabriel.

O Mar e as Pontes



Depois de passar mais de um mês no estado do Espírito Santo na cidade de Vila Velha, cheguei à conclusão de que meu encantamento e identificação por esta cidade, além de está relacionado com as pessoas daqui, tem a ver com duas outras imagens muito presentes na minha vida: o mar e as pontes.

Assim como Olinda e Recife estão ligadas pelo mar e por uma ponte, Vitória e Vilha Velha também. Do alto de Olinda podemos ver Recife. Do alto de Vila Velha podemos contemplar Vitória. Como as pontes do Recife e daqui têm significado para mim!

As pontes nos permitem descobrir outros e novos lugares, conhecer novas pessoas, ver outras paisagens. Podemos começar novas etapas e escrever novas histórias. As pontes daqui me deram novos amigos, novos irmãos. Às vezes do outro lado da ponte podemos encontrar lugares que curam.

Como canta o poeta João Alexandre: "É obra do Espírito Santo este lugar..."
A felicidade que encontrei aqui "tem um gosto de Vitória..."
Ah Vilha Velha como alegrastes meu coração!
Daniel Barros


Por uma Teologia Prática e Sensível

Frei Honório Rito em seu livro, Introdução à Teologia, diz em outras palavras que a teologia só começa a ser teologia, quando se torna prática. Esta afirmação levanta a velha discussão sobre a distância entre a teoria e a prática, entre o discurso e a vida.
Aprofundando esta idéia eu diria que quando o estudo teológico se torna prático, só então começa a ser relevante. Primeiro, na vida de quem faz a teologia, o teólogo. E depois na vida da comunidade onde este teólogo convive.

A ausência da prática na teologia permite que grande parte da sociedade pense que o teólogo é aquele que se ocupa tão somente das questões ligadas ao céu. Um ser alheio a tudo e a todas as coisas que acontecem aqui em baixo. Isto não é verdade. Ou pelo menos não deveria ser. Esta conclusão é a conseqüência imediata da falta de uma ação prática da teologia, que é percebida pelas pessoas, numa sociedade que a cada dia carece e padece sem encontrar respostas às suas demandas existenciais.

O teólogo cristão precisa entender que a recomendação paulina de "buscar... e pensar nas coisas lá do alto e não nas que são daqui da terra" (Colossenses 3:1-2), não é uma proposta de vida alienada. Paulo não nos ensina que ao buscar e pensar nas virtudes e valores de Deus, devemos abandonar a vida comum.

O ensino do texto é que em buscando e pensando nas coisas que são lá do alto, devemos repensar a maneira como vivemos aqui em baixo. Ou seja, a proposta do apóstolo é de uma existência relevante. O que nos permite pensar numa prática teológica a meu ver, de inclusão e não de isolamento.

O texto biblico nos desafia revermos nossa espiritualidade e questionarmos a superficial religiosidade que nos envolve, que aparentemente conduz nossas mentes ao "céu", mas deixa nossos pés queimando no "inferno" sem sentirmos nada, pois perdemos a sensibilidade do evangelho.

O teólogo cristão tem por missão e dever, esclarecer e possibilitar que as pessoas (crentes e não crentes) deixem a alienação quanto ao modo de se relacionarem com Deus. Conduzí-las à uma espiritualidade autêntica conquistada e desenvolvida mediante uma experiência verdadeira e constante com Jesus, o Cristo. Rever a nossa espiritualidade tendo como referência o testemunho de Jesus é um convite à Graça, ao renovo, à transformação, à conversão.

É ter a coragem de liberta-se das amarras religiosas institucionais e denominacionais e de suas 'cartilhas de crente'. É poder redescobrir a beleza da simplicidade de ser apenas cristão.

Aquele que habitava lá no alto, desceu a este mundo aqui e nos ensinou quão nociva era e continua sendo a religiosidade desprovida de sensibilidade para a vida. Jesus nos ensinou que a vida com Deus deve tornar a nossa própria, relevante para a vida das pessoas com quem nos relacionamos e para a vida do lugar onde habitamos.

Ele conviveu com as pessoas e andou entre elas. Foi sensível a dor do outro e operou milagres trazendo para vida um leproso, um cego de nascença e um jovem endemoniado que vivia nos sepulcros; restaurando-lhes o sorriso no rosto, a dignidade; reinserindo-os à vida comum junto aos seus familiares e amigos.

O Senhor Jesus não teve receio em "macular" o seu nome ou o seu "ministério" ao conversar com os marginalizados de sua época. Ele esteve entre pecadores, com gente de reputação questionável como Zaqueu, Maria Madalena. Foi gracioso com uma mulher adúltera renovando-lhe a esperança de ajustar-se na vida não pecando mais daquela forma. Quem não está disposto a "manchar" o seu nome, seu ministério ou o nome de uma estrutura religiosa pera abençoar pessoas, não é digno de cuidar delas. Não é digno de orgulhar-se apenas do título de pastor.

Quando olho hoje para o testemunho de vida de Jesus tenho quase certeza que se ele estivesse no Brasil, não faria parte de "igreja" alguma que se diz ser cristã.

Em alguma denominação, Jesus teria seus sermões reprovados e questionados por serem tão simples e sem profundidade exegética. Seria chamado atenção em algum concílio por ser tão espontâneo e não seguir à risca os manuais das sociedades internas.

Em outra seria "convencido" a dar testemunhos de que seu batismo realmente foi realizado da forma "correta", por imersão. E sendo de outra denominação não participaria da santa ceia.

Provavelmente em alguma igreja teria que provar sua divindade falando em línguas estranhas e só pregaria de paletó e com um detalhe: sem corte atrás.
Em algumas comunidades chamadas neopentecostais, coitado de Jesus...

A reflexão teológica alienada do nosso tempo tornou o evangelicalismo brasileiro uma tragédia. Poucos são aqueles que têm o pensamento teológico livre. A reflexão teológica "tupiniquim" tornou-se refém das instituições religiosas onde cada uma delas cria sua "teologia" em benefício da sua própria infra-estrutura.

Alguns pastores (teólogos de gabinete) estão mais comprometidos com o ativismo de suas "igrejas" que com a relevância delas na vida das pessoas e na comunidade onde estão instaladas. Fechados em suas salas, esquecem da dureza que é viver lá fora. Por isso não percebem que "os campos estão brancos para colheita". Não "conseguem" enxergar as pessoas "como ovelhas que não têm pastor".

Alguns teólogos de gabinete reduzem a ação e a visão das comunidades eclesiásticas ao mundo estrutural, ensinando que o Reino de Deus tem seus limites na denominação. Os teólogos de gabinete precisam andar pelas ruas, tomar um ônibus, ir a um mercado público, andar numa feira, estar entre as pessoas simples, senti-las. Não se faz uma teologia relevante distante da realidade que nos cerca. O mundo que está fora das estruturas é um outro totalmente diferente, não é fantasia.
O que o Evangelho tem a ver com a vida das pessoas aqui em baixo?
O que estamos fazendo neste mundo?
O evangelho deve ser anunciado a quem?
Qual o propósito dessa "igreja" aqui?
Em que outro mundo seremos sal e luz?
Daniel Barros.

"...Amigos mais chegados que um irmão"

Diz o ditado que se quisermos passar bem pela vida devemos "ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro". Tais coisas são importantes e pelo menos uma árvore eu já plantei.

Mas esta frase não está completa para mim. À ela eu acrescentaria que se quisermos passar bem pela vida também devemos fazer amigos.
Eu agradeço a Deus porque tenho alguns e verdadeiros amigos e amigas. Nomes como Pedro, Jânio, Alexandre, Luciano, Cláudio, Roberta(Beta), Betânia, Suzana (Su), Raquel Aquino, Markinhos, e outros antigos e novos amigos conquistados, me fazem acreditar que não estou sozinho nessa vida.

A Bíblia nos diz que "há amigos mais chegados que um irmão" (Provérbios). Isto é a mais plena verdade quando penso em pessoas como as que eu mencionei, mas de forma carinhosa e justa também o é quando penso em Iranildo. Nele, quero homenagear todos os meus verdadeiros amigos citados ou não. Iranildo é meu conterrâneo, meu colega de ministério, meu parceiro de angústias e alegrias, meu conselheiro, meu pastor em determinados momentos. Iran... Meu amigo, meu irmão.

A amizade entre nós é fortalecida não apenas pela proximidade, pois durante a maior parte do tempo estamos distantes geograficamente, mas pela identidade, pela empatia com o outro. Nossa amizade é fortalecida pelo reencontro. Cada vez que isto acontece, uma celebração. Foi assim com os amigos Davi e Jônatas que fizeram um pacto de amizade. Podemos citar outros exemplos bíblicos e além deles. Mas, ao evidenciar um exemplo bíblico de amizade é com a intenção clara de dizer que entendo a minha amizade com o Iran, como algo sagrado, coisa de Deus para abençoar a minha vida.

Obrigado Iran pelo seu cuidado, respeito, sinceridade, preocupação, hospitalidade, desprendimento, esforço em meu favor, pelo zêlo, pela força, pela atenção dispensada em todos os momentos desde o dia em que nos conhecemos. Obrigado por acreditar em mim, no meu ministério. Obrigado pelo coração gigante e sempre aberto.
Obrigado por ser meu amigo/irmão.
Obrigado meu Deus pela vida do Iran (Quem é o cantor? rsrsrsrs).

Impressões...

Ao falar sobre impressões quero estar longe da máxima que diz que a “impressão é a primeira que fica”. Para mim, esta lógica reflete tão somente a inclinação cruel que a nossa natureza humana tem em fazer reducionismos e imprimir rótulos sobre outras pessoas, lugares e situações.
Ela mascara um sentimento pequeno alojado em nossa alma, o preconceito (pré-conceito).

O preconceito tem a capacidade de nos privar da aventura da descoberta, de experimentar, conhecer, sentir e somente depois concluir. O preconceito elimina etapas, conclui e reduz tudo e qualquer um em um instante eterno.
Sentimento que herdamos de pessoas que fizeram “impressões” (in-pressões) em nosso lugar. Volta e meia este sentimento me alcança, pois não me engano sobre a minha própria natureza. Vou vivendo e lutando contra a tentação de inserir à minha “herança” novas rotulações.
Precisamos fazer impressões. E fazê-las não significa pensar, agir ou realizar as mesmas coisas e/ou do mesmo jeito que pessoas diferentes de nós pensam e agem. Entendo fazer impressões como "colocar-se no..." local, no sentir, no espaço do outro. Fazer impressões é permitir-se olhar com a ótica do outro.

A rota do preconceito é um salto do começo (o que vimos) para o fim (o que sentimos).
Entre um ponto e outro se encontra o campo inexplorado das impressões. Verdadeiro “latifúndio” na alma que impede que sejamos mais férteis, mais generosos, mais questionados. E assim, nos tornamos menos conhecedores, mais ignorantes sobre a vida, sobre as pessoas, sobre o local onde vivemos e existimos e até sobre Deus e sua graça.

As primeiras coisas que vimos e sentimos nunca permanecem as mesmas quando nos aproximamos delas. Percepções aparentemente “boas” podem se tornar conclusões ruins e vice versa. Por isso considero o valor da aproximação. Ela nos permite rever o olhar e concluir de modo diferente.

Ao olhar alguém, ao sentir algo, ao ler um livro ou quando estiver em algum lugar, faça impressões. Elas não o impedirão de chegar às suas próprias conclusões. Contudo não conclua nada antes de ouvir, de sentir, de se aproximar, de descobrir o que você enxerga encoberto (en-coberto). Se impressione com a vida, converse com as pessoas, sinta cheiros, novos sabores. Passeie nos lugares que você ainda não foi, vá a um mercado público, à uma feira e não apenas a um shopping (tenho conclusões sobre este ambiente).

Permita que outras pessoas, outros lugares e situações façam incursões na sua alma, olhe nos olhos de alguém eles são "as janelas da alma". Faça descobertas, aproxime-se, lute contra a sua natureza e depois conclua, você tem esse direito. Só não esqueça de amar, de respeitar, de procurar entender, de ser tolerante. Porque chegar a uma conclusão não significa que você chegou ao fim de tudo em detrimento de todos e de todas as coisas. Você chegou apenas à sua própria conclusão. Ela não é a melhor e nem a única. Existem várias outras.

Viveríamos melhor com nós mesmos, com as pessoas que convivemos e com o lugar aonde habitamos se nos impressioná-se-mos mais.
Pelo menos esta é a impressão que eu tenho.
Daniel Barros.