Aos 33 anos de idade...

No dia 09 de março completei 33 anos de idade. Chegar à idade com que Cristo morreu entregando-se por amor, negando a si mesmo, é de fato, um momento cheio de simbolismos e significados para mim. Chegar a esta marca, me deixou mais pensativo e me lancei a fazer reflexões mais profundas e honestas sem as máscaras da religiosidade sobre a minha vida e discipulado, sobre a minha fé e obediência, e sobre as minhas escolhas.

Talvez algumas declarações aqui soem estranhas ou causem algum tipo de espanto a alguns por saberem que eu sou pastor. Não me sinto mal por isto, a autenticidade tem seu preço e há muito resolvi não viver um personagem de mim mesmo atendendo expectativas de terceiros, mas somente daquele que é o Primeiro. Chegar aos 33 anos ratifica a idéia que não sou e nem pretendo ser “referencial” ou “modelo” perfeito de vida e ministério para ninguém. Não encaro a minha vida nem o ministério como carreirismo religioso e sim como descoberta e aprendizado.

Chego aos 33 anos de idade mais convencido do que nunca, da minha humanidade e conseqüentemente, da minha necessidade e dependência extrema de Deus. Sou homem antes de ser pastor. E como homem comum sei dos meus acertos e pecados; Na memória as vitórias e os fracassos; Sei da minha força e fraquezas... Chego aos 33 anos sabendo um pouco mais sobre mim mesmo.

Neste tempo da minha vida tenho consciência profunda da minha vocação pastoral e psicológica. Estou mais certo que preciso estar entre as pessoas, servi-las, compreendê-las e ser solidário. Contudo, os anos me forjaram a consciência para saber que estar e me envolver com as pessoas me sujeita passiva e ativamente a todos os contrastes, imprevisões e mutações que envolvem o “jogo” das relações humanas.

Até chegar aos meus 33 anos já sorri e chorei; Amei e fui amado assim como odiei e fui odiado; Feri e fui ferido assim como decepcionei e fui decepcionado; Ajudei, mas, fui mais ajudado; Magoei alguns e fui magoado por outros; Perdoei e fui perdoado. Acho que ainda preciso pedir perdão e perdoar a alguns, mas não sei como e quando isto acontecerá.
Existem algumas situações que não adianta remexer...

Chego aos 33 anos de idade sabendo mais sobre o que não quero, do que sobre as coisas que eu quero. O que “eu quero” está refém do futuro e sujeito a situações que não poderei controlar. Das coisas que experimentei, posso falar o que foi bom e o que foi ruim. E apesar dos pesares, as experiências ruins não me tiraram a capacidade de sonhar, desejar e acreditar principalmente no amor mesmo colecionando algumas frustrações.

Nos meus 33 anos como homem não quero ser um religioso, mas, um discípulo; Não quero servir à Instituição Igreja, mas ao Reino de Deus e às pessoas sem perder a minha identidade cultural, teológica e a liberdade de ser e pensar, minha identidade pessoal. Ainda quero casar, mas não quero uma mulher que viva à sombra do que eu sou.
Não quero ser ingrato com minha família e amigos; Quero ser grato a Deus, pois até aqui cuidou de mim dando-me Nova Vida, novas chances e renovou Sua graça.

Aos 33 anos, meu desejo como pastor é continuar a ser gente.

Observando, Lendo e Orando.

Semana passada após deixar meu pai no médico, logo cedo pela manhã, caminhei à procura de um lugar tranqüilo no centro da cidade aonde pudesse continuar a leitura de um livro que me dispus a passar suas páginas sem pressa, pois aprendi tempos atrás com o Rubem Alves, que os ‘livros devem ser ‘ruminados’; Lidos e digeridos, assim como uma vaca faz ao engolir uma manga.

Ao passar em frente à Igreja do Santíssimo Sacramento, no cruzamento das ruas Manoel Borba com a do Hospício, achei que ali encontraria tempo e ambiente para ler até o momento de reencontrar meu pai.

Logo que entrei procurei por um lugar reservado nas últimas fileiras. Num rápido olhar sobre o local, percebi algumas pessoas sentadas e outras ajoelhadas em devoção. A Igreja era imensa e poucas pessoas estavam ali àquela hora da manhã. Um silêncio profundo me envolveu em poucos instantes.

Percebi que as pessoas que entravam e saiam, procuravam ter um momento com Deus antes de seguirem para o trabalho. Dentre essas pessoas, um jovem ajoelhado e de braços erguidos alguns bancos à minha frente, me chamou a atenção; Em meio às lágrimas, falava às vezes balançando a cabeça e braços como se pedisse algo com muito fervor. Observando de longe lembrei de Ana, quando no templo falava com Deus expondo a angústia da sua alma, foi tida e repreendida equivocadamente como bêbada nas primeiras horas da manhã pelo sacerdote Eli.

Não cometi o mesmo equívoco do sacertode enquanto observava aquele rapaz. Perguntava-me o que poderia se passar no coração daquele jovem que o movia a falar com Deus tão intensamente, ao mesmo tempo em que lia que a oração nos aproxima de Deus e é meio de transformação daquilo que somos; “se não quisermos ser transformados por Deus fugiremos da disciplina da oração”.

Lendo e observando as pessoas naquela igreja, resolvi falar com Deus logo depois que li, que em oração “Deus vai aonde a gente está”. Não seria necessário ler isto para crer que Deus estava ali. Mas a frase despertou meu espírito a orar a Deus naquele momento e foi um tempo de deleite como há muito não sentia.

Encontrando-Se comigo naquela manhã e daquela forma, enquanto eu observava, lia e orava, Deus com seu jeito manso e amável me falou que era preciso ter mais tempo com Ele em oração.

Levantei-me lembrando do Phillip Yancey que escreveu em um dos seus livros que podemos encontrar Deus nos lugares mais inesperados. Eu que apenas pensava em encontrar um lugar tranqüilo para ler naquela manhã percebi que a oração ainda é um terreno que precisa ser mais explorado por mim.