O Mundo das "Bolas e dos Crack's"



Dias atrás todo o mundo e o mundo da bola, comentava sobre o milésimo gol do Romário. A expectativa que durava algum tempo chegou ao fim contra o Sport Club do Recife, o que para todo tricolor torcedor do Santa Cruz, foi um deleite para a alma.

Fora de Recife eu sou um simpático torcedor do Vasco, talvez muito mais torcedor do Romário. O gol mil me deu motivos de sobra para tirar a ‘maior onda’ com o Iranildo. Um rubro-negro ‘de carteirinha’ que já me fez ouvir o hino do Sport e o canto da torcida do flamengo em pleno maracanã, acompanhada pelo contagiante ritmo de sua charanga gravado do seu aparelho mp3. O milésimo gol era o momento de eu poder dar o troco...

Tudo bem que eu não sou o melhor dos torcedores nem do Santa Cruz e nem do Vasco. Não sou um torcedor tão eufórico quanto o Iran em dias de vitória dos seus times em Recife e no Rio de Janeiro. Mas o fato é que todas as torcidas adversárias do Vasco reconhecem que o Romário é um crack! A bola e o ‘Baixinho’ na área é sinônimo de gol.

Pegando carona no mundo da bola onde gol, torcida, rivalidade, gozação, crack’s, nos dão a idéia de alegria e festa, pelo menos deveria ser, gostaria de falar sobre um outro mundo nada alegre e sobre um outro jogo que muita gente não vê pela televisão numa tarde de domingo que é o Jogo da Vida contra as drogas na luta contra a dependência química.

Neste jogo quando o time das drogas vence uma partida não há motivos para comemorações, gritos e saltos de felicidade. Um jogo aonde as bolas vão sempre para fora das redes atingindo milhares de famílias deixando feridas na alma e no coração. Um time onde a expressão ‘matador’ tem tudo a ver com o ‘atacante’. Um jogo onde a vitória contraditoriamente, sempre traz perdas, sensação de fracasso e desesperança.

No time das drogas ‘dar uma bola’ não é fazer um lance para um outro jogador, mas ingerir, fumar ou cheirar. O time das drogas possui um ataque que não é o ‘dos sonhos’ e sim o dos pesadelos, e juntos formam o ‘trio do C’: ‘Crack’, ‘Cannabis’(maconha), ‘Cachaça’(álcool), estes são ‘atacantes’ terríveis. O restante do time conta com: Cigarro jogando como armador, Cocaína pelas laterais, Ecstasy como meio esquerdo, o famoso Thiner na meia direita, e na zaga Cola, Fristo e LSD; No gol: Anfetaminas.

Trabalhando como Conselheiro Espiritual numa ONG que lida com a recuperação de dependentes químicos e alcoolistas, é doloroso constatar a quantidade de pessoas, em todas as camadas sociais, que estão presas às drogas. São crianças, adolescentes, jovens e adultos, homens e mulheres, pobres e ricos que se ‘associaram’ ao ‘club esportivo da morte’.

No time que joga pela vida a escalação é: Instituições Religiosas, Governamentais e não governamentais (ONG’S), Fundações, Voluntários, Psicólogos, Teólogos, Assistentes Sociais, Médicos, Terapeutas Ocupacionais, Conselhos Tutelares, Igrejas e familiares. Todos, inseridos e envolvidos no processo de tratamento de filhos, filhas, pais, mães, sobrinhos, amigos, maridos, esposas... Muita gente a fim de mudar de time. Famílias inteiras que querem voltar a comemorar a arte de viver em paz.

O jogo é duro! Cada dia uma nova batalha. E no time da Vida não existem reservas, nem expectadores como torcida. Somos jogadores titulares unindo forças nesse ‘jogo’ da vida contra a morte.