Por uma Teologia Prática e Sensível

Frei Honório Rito em seu livro, Introdução à Teologia, diz em outras palavras que a teologia só começa a ser teologia, quando se torna prática. Esta afirmação levanta a velha discussão sobre a distância entre a teoria e a prática, entre o discurso e a vida.
Aprofundando esta idéia eu diria que quando o estudo teológico se torna prático, só então começa a ser relevante. Primeiro, na vida de quem faz a teologia, o teólogo. E depois na vida da comunidade onde este teólogo convive.

A ausência da prática na teologia permite que grande parte da sociedade pense que o teólogo é aquele que se ocupa tão somente das questões ligadas ao céu. Um ser alheio a tudo e a todas as coisas que acontecem aqui em baixo. Isto não é verdade. Ou pelo menos não deveria ser. Esta conclusão é a conseqüência imediata da falta de uma ação prática da teologia, que é percebida pelas pessoas, numa sociedade que a cada dia carece e padece sem encontrar respostas às suas demandas existenciais.

O teólogo cristão precisa entender que a recomendação paulina de "buscar... e pensar nas coisas lá do alto e não nas que são daqui da terra" (Colossenses 3:1-2), não é uma proposta de vida alienada. Paulo não nos ensina que ao buscar e pensar nas virtudes e valores de Deus, devemos abandonar a vida comum.

O ensino do texto é que em buscando e pensando nas coisas que são lá do alto, devemos repensar a maneira como vivemos aqui em baixo. Ou seja, a proposta do apóstolo é de uma existência relevante. O que nos permite pensar numa prática teológica a meu ver, de inclusão e não de isolamento.

O texto biblico nos desafia revermos nossa espiritualidade e questionarmos a superficial religiosidade que nos envolve, que aparentemente conduz nossas mentes ao "céu", mas deixa nossos pés queimando no "inferno" sem sentirmos nada, pois perdemos a sensibilidade do evangelho.

O teólogo cristão tem por missão e dever, esclarecer e possibilitar que as pessoas (crentes e não crentes) deixem a alienação quanto ao modo de se relacionarem com Deus. Conduzí-las à uma espiritualidade autêntica conquistada e desenvolvida mediante uma experiência verdadeira e constante com Jesus, o Cristo. Rever a nossa espiritualidade tendo como referência o testemunho de Jesus é um convite à Graça, ao renovo, à transformação, à conversão.

É ter a coragem de liberta-se das amarras religiosas institucionais e denominacionais e de suas 'cartilhas de crente'. É poder redescobrir a beleza da simplicidade de ser apenas cristão.

Aquele que habitava lá no alto, desceu a este mundo aqui e nos ensinou quão nociva era e continua sendo a religiosidade desprovida de sensibilidade para a vida. Jesus nos ensinou que a vida com Deus deve tornar a nossa própria, relevante para a vida das pessoas com quem nos relacionamos e para a vida do lugar onde habitamos.

Ele conviveu com as pessoas e andou entre elas. Foi sensível a dor do outro e operou milagres trazendo para vida um leproso, um cego de nascença e um jovem endemoniado que vivia nos sepulcros; restaurando-lhes o sorriso no rosto, a dignidade; reinserindo-os à vida comum junto aos seus familiares e amigos.

O Senhor Jesus não teve receio em "macular" o seu nome ou o seu "ministério" ao conversar com os marginalizados de sua época. Ele esteve entre pecadores, com gente de reputação questionável como Zaqueu, Maria Madalena. Foi gracioso com uma mulher adúltera renovando-lhe a esperança de ajustar-se na vida não pecando mais daquela forma. Quem não está disposto a "manchar" o seu nome, seu ministério ou o nome de uma estrutura religiosa pera abençoar pessoas, não é digno de cuidar delas. Não é digno de orgulhar-se apenas do título de pastor.

Quando olho hoje para o testemunho de vida de Jesus tenho quase certeza que se ele estivesse no Brasil, não faria parte de "igreja" alguma que se diz ser cristã.

Em alguma denominação, Jesus teria seus sermões reprovados e questionados por serem tão simples e sem profundidade exegética. Seria chamado atenção em algum concílio por ser tão espontâneo e não seguir à risca os manuais das sociedades internas.

Em outra seria "convencido" a dar testemunhos de que seu batismo realmente foi realizado da forma "correta", por imersão. E sendo de outra denominação não participaria da santa ceia.

Provavelmente em alguma igreja teria que provar sua divindade falando em línguas estranhas e só pregaria de paletó e com um detalhe: sem corte atrás.
Em algumas comunidades chamadas neopentecostais, coitado de Jesus...

A reflexão teológica alienada do nosso tempo tornou o evangelicalismo brasileiro uma tragédia. Poucos são aqueles que têm o pensamento teológico livre. A reflexão teológica "tupiniquim" tornou-se refém das instituições religiosas onde cada uma delas cria sua "teologia" em benefício da sua própria infra-estrutura.

Alguns pastores (teólogos de gabinete) estão mais comprometidos com o ativismo de suas "igrejas" que com a relevância delas na vida das pessoas e na comunidade onde estão instaladas. Fechados em suas salas, esquecem da dureza que é viver lá fora. Por isso não percebem que "os campos estão brancos para colheita". Não "conseguem" enxergar as pessoas "como ovelhas que não têm pastor".

Alguns teólogos de gabinete reduzem a ação e a visão das comunidades eclesiásticas ao mundo estrutural, ensinando que o Reino de Deus tem seus limites na denominação. Os teólogos de gabinete precisam andar pelas ruas, tomar um ônibus, ir a um mercado público, andar numa feira, estar entre as pessoas simples, senti-las. Não se faz uma teologia relevante distante da realidade que nos cerca. O mundo que está fora das estruturas é um outro totalmente diferente, não é fantasia.
O que o Evangelho tem a ver com a vida das pessoas aqui em baixo?
O que estamos fazendo neste mundo?
O evangelho deve ser anunciado a quem?
Qual o propósito dessa "igreja" aqui?
Em que outro mundo seremos sal e luz?
Daniel Barros.