Santa Folia... Bom Seria...




A terra do frevo está fervendo desde a segunda semana de janeiro. O trânsito está 'louco', a cidade está repleta, e pessoas de todos os tipos e lugares resolveram se encontrar em Olinda e Recife durante o carnaval. 'Gringos' de todas nacionalidades irão esticar a temporada até os primeiros dias de março misturando-se aos pernambucanos. O carnaval deste ano parece mais popular que nunca. Aqui não tem abadá. Todos têm acesso aos grandes show's e de graça.

Eu que sempre estive envolvido em acampamentos de igreja durante este período de festa popular terminei ficando em Olinda mesmo. Poucas vezes isso aconteceu comigo mas tem sido um tempo interessante para estar com novas pessoas ou sozinho, assistir filmes com alguns amigos ou ler e meditar sobre a vida em minha casa.

O carnaval como expressão cultural e popular é uma das mais lindas no meu estado. Um colorido fantástico, a espontaneidade das pessoas à flor da pele, as fantasias engraçadas, foi o que percebi ontem voltando para casa pelas ruas de Recife e Olinda. Ontem (sábado) o Galo da Madrugada (o maior bloco carnavalesco do mundo) foi às ruas do centro da cidade do Recife, arrebanhando uma multidão de pessoas debaixo de um sol causticante. Observei alguns 'flash's' pela televisão, pois não obstante gostar da beleza e diversidade cultural desta época, confesso que não teria coragem de sair frevando no meio daquela multidão. Sou folião da apreciação, vibro com toda a diversidade cultural do meu Chão, mas cair no frevo, só na imaginação rsrsrsrs...

O carnaval é uma festa bonita. Todos os povos têm suas festas populares. Mas sobre o carnaval parece pesar "um ar" de "pecado", "carnalidade", "promiscuidade" e eu não estou aqui para provar o contrário, todos nós sabemos que existem muitas coisas exageradas realizadas por pessoas neste período que não são lícitas. Mas o fato é que a festa carnaval nunca foi sempre assim como está. Ainda existem lugares onde foliões brincam sem maldade e sensualidade com seus familiares da melhor maneira possível curtindo este período como uma verdadeira celebração.

Entendo que a proposta do evangelho não é acabar com as festas, mas sim, que elas reproduzam e exalem cheiros e valores cristãos de um bom viver, capaz de dar ao ser humano satisfação não somente espiritual/religiosa, mas emocional, relacional e cultural. Afinal de contas, necessitamos das outras áreas que compõem a existência humana, gerando vida e identidade com o nosso tempo e espaço.

Nesse período de carnaval as opiniões se dividem entre os cristãos evangélicos: Uns preferem sair para seus retiros espirituais, o que já criou um mercado rentável para os donos de hotéis, fazendas e Chácaras. Como também existem àqueles grupos que resolvem evangelizar entre os foliões com peças teatrais, grupos de dança e abordagens pessoais. Existem ainda àqueles que também preferem "se retirar" em suas próprias casas e fazerem boas leituras, descansar ou talvez ver bons filmes.

Eu não tenho nenhuma posição contrária às três opções acima. Mas sou contra sim, àqueles que saem para os seus retiros achando que os que ficam para evangelizar, "ficam por um pretexto de aproveitarem a festa para darem lugar à carne". Isto é um verdadeiro absurdo pensar desse jeito, mas infelizmente existem pessoas que pensam deste jeito. Que pena.

Sou contra àqueles que ficam para evangelizar mas, criticam os que saem para os retiros classificando-os de "descomprometidos", "sem visão missionária", "sem paixão pelas almas", como se estivessem 'fugindo' do imperativo "ide" de Cristo. É um exagero pensar assim, mas infelizmente, existem os que pensam desta maneira. Que julgam de forma negativa a espiritualidade do outro, porque durante o carnaval, como se não houvesse outro tempo para falar de Jesus, alguns resolveram acampar ou descansar.

É uma pena que a relação entre cultura e espiritualidade seja algo ainda tão frágil entre nós, cristãos evangélicos. Que bom seria se a gente pudesse falar de Jesus sem vivermos em crise com a nossa cultura, com o nosso 'jeitão' de ser brasileiro, de ser pernambucano e com as nossas festas sem peso de culpa infernal. Bom seria que a nossa busca espiritual pudesse nos humanizar mais, a fim de vivermos de maneira mais integral e integrada como o mundo e com as coisas que Deus criou. E isto está longe de ser mundanismo ou secularismo, mas liberdade cristã, que permite experienciar todas as coisas e retêr as que são boas.

Que bom seria se pudéssemos fazer santas folias, porque tudo o que fizermos ou viermos a fazer, deve ser para Glória de Deus.